quarta-feira, 19 de setembro de 2007

Netuno

mãos, boca, olhos, nariz e todos os sons da cidade aqui entre águas....dar as minhas mãos nas tuas
(tudo feito dos caquinhos do meu desejo)
Mar que passa pelo coral e segue fazendo a espuma que alguém na praia tenta prender com os pés. (Eis a imagem que construí)
Você diz sujo
eu digo limpo e te vejo anjo.
Barroco. Talhado. (sei que caíram-te as asas!)
Acorda, levanta e abre as janelas! Deixa a chuva soar, o barraco zoar e o teto cair de uma só vez - quadrado.
Olha pra cima e observa que estas em cima da terra e embaixo do céu, esperando o teto redondo descendo feito nave que vai te levar prum passeio recortado pela orla.
Agora sim, passa por aqui e me conta como foi porque é aqui que estou desde que começou essa chuva esperando o relato do seu passeio na nave,
quero que me diga se viu Netuno com sua barba de líquens e cascas de ostra nas costas? Se me viu lá de cima e se eu parecia bem...
Traga notícias minhas o quanto antes porque estou aqui....esperando...
Embaixo do céu,
Encima da terra,
pela nave na concha das tuas mãos

Esse ganhei de um amigo

dois budas de pedra
frente a frente
no alto de uma montanha
sob vento
sob chuva

sem roupa
sem comida
sob neve
geada

ainda assim os invejo
pois nunca conhecerão a dor humana da separação

desculpa....andei pensando....

é nesse momento intervalo de tempo da vida entre ontem e hoje no mundo que não parou quando errei os olhos....(tudo o que era decente de se fazer, feito está) A vida tá bem aqui nos rostos de milhares de pessoas...a minha voz

A hora do samba

Acende o cigarro que o copo tá cheio, parem as correntes de vento, aprumem as cadeiras, refaçam a mecha caída, limpem o chão das pegadas, tirem as pilhas do relógio, porque quando a cuíca chorar é hora,
O samba já vai começar....
Ordem no recinto, ordem pro mundo parar, ordem no recinto que o samba já vai começar.
Ordem nas saias das damas, ordem no nó das gravatas dos cavalheiros, ordem no recinto do samba, respeito, despeito de não tocar o pandeiro....(na saia do samba no nó do recinto pandeiro)

só esperando o tempo passar

no intervalo de ambas as tardes em que fiquei aqui contando as paredes interrompidas da sala de estar estando só e só ficando até a próxima manhã quando enfim acordo comigo. (Dúvida referencial do espaço)
Sonho quebrado em cacos de memória sonâmbula e o dever do dizer "Bom Dia!" ao primeiro que passar. Santo dia pra observar de longe a dor de ser o dia inteiro pela tarde afora e a noite toda pra sonhar os cacos

na plataforma do ônibus

acaba de passar por mim uma moça com passinhos apertados.
parece que suas pernas estão presas a alguma traquitânea invisível que lhe permite passinhos de no máximo 20 cm.
no rosto dela nenhum traço de desassossego...apenas insiste em andar dessa maneira não sei porque
(fica parecendo que defecou involuntariamente nas calças ou que seus pentelhos estão amarrados de uma maneira trágica!)Fico pensando em quem ganha e em quem perde e como ela deixa distâncias longas pra trás com passinhos tão curtos - parece ter medo de fazer avançar tempo e espaço...
Na verdade mesmo, ela nada representa pra mim e nem mesmo o seu ato de passear tão curtamente representa droga nenhuma....(nem ao menos sei o que me faz escrever tanto sobre ela....)
Um passo curtinho, amarrado invisivelmente! Uma cara impassível e a sensação de que dalí não tiro nada....só que ela poderia avançar um pouco mais a frente

quinta-feira, 13 de setembro de 2007

between

monossílabos, pausa de 3 dias; dissílabos, pausa de 3 dias; pontos de interrogação em todas as direções nas frases incompletas coerência mínima. Entre a cruz e a caldeirinha? quero ficar exatamente "entre" - between, baby...sob tensão, aí mesmo. talvez esperando o mágico estalar os dedos, talvez entregue a sorte desse momento dentro da eternidade

...segue

remover células e pêlos - unhas e lascas velhas de esmalte...as janelas estão cheias de poeira e sal bemvindo do ar puro da beira do mar - orla de frescor nos dias mais quentes, brisa glacial nas noites de inverno. Aqui entre mares onde a fluidez do velho novo tempo se esvai em correnteza tangencial na direção do mar aberto para nunca mais sair da perpétua linha do horizonte
assim passam os dias pelo tempo

ressurgindo

A infertilidade do momento que se segue ao começo do fim da dor quando um corpo refugado por outro corpo se ergue na periferia da alma e vai...(arejar colchões e travesseiros, passar o palito entre as tábuas do chão)

saia rodada

Barra da saia toda arrepiadinha promovendo vertigens nos mais metódicos, no balanço do pano fino quase transparente lá vai ela toda passos largos (andar decidido essa menina!) Cabelo pra lá e pra cá, saia pra alí e acolá...Ai, ai, penso que logo logo não aguentarei e cairei tonto todo olhos revirados, estômago na boca, náusea da vertigem, estátua de sal

no chão

No relato do póstumo amor a dor que grita sempre aos pés do abandono. Pés de bainha falsa.

asa quebrada

A gente vai um dia aprimorar na prática a nossa técnica - disse ela.
a moça da janela deixará de olhar a esquina em frente e sairá pra passear;
o ancião, frequentador da banca de jornais, lerá a página dos obituários por último;
o taxista abrirá algum romance do século XlX, pela primeira vez está disposto a ler um livro enquanto espera seu próximo passageiro debaixo da sombra do cinamomo.
A estátua de anjo da praça está com a ponta da asa quebrada (parece que sempre esteve assim)mas um pássaro azul muito pequeno construiu seu ninho bem alí, numa tentativa de perfeição, a vida segue num espasmo de beleza e amor
(eu por mim, tento apenas caminhar com a coluna reta e os pézinhos paralelos)

o primeiro recado

A nave da história flutua por aí!
Rasga o céu dos amantes mais prometidos e perturba o silêncio da noite. Vez por outra ela para, reacomoda fatos e organiza registros numa linha do tempo. Só não vê quem não quer